Depois de receber vários e-mails delirantes sobre a vacina e, vcs também, achei conveniente esse esclarecimento.
Repassando...
Decidi escrever um e-mail com algumas informações sobre a vacina contra a influenza (gripe) depois de ter recebido, somente no dia de hoje, 4 e-mails de amigos me pedindo informações ou opiniões sobre o "genocídio programado pela WHO e pela indústria farmacêutica".
Sou da opinião que quando recebemos um e-mail muito apelativo, com informações que causam medo ou pânico, especialmente se tiver vários tipos e tamanhos de letras multi-coloridas, devemos acionar o desconfiômetro e checar informações.
Primeiramente, acho que todos merecem saber como uma
vacina contra influenza é pensada e feita, para poder entender algumas
coisas.
A Organização Mundial da Saúde (WHO) monitora os casos de influenza no mundo, e sabe que tipo de vírus está circulando em casa parte do nosso planeta. Assim, monta o que é chamado de pool vacinal: o
conjunto de cepas (tipos) de vírus influenza que circularam com maior
frequencia em cada hemisfério. A partir deste pool vacinal é que a vacina é feita. Como? Através da inoculação de vírus em ovos embrionados de frango. Estes vírus depois são inativados, e a vacina em si é manufaturada.
A vacina para a tão famigerada gripe A nada mais é que
a cepa A/H1N1 do vírus influenza (que circulou entre nós no ano
passado), sozinha ou associada a mais duas cepas da influenza sazonal
(gripe comum).
Ou seja: todos os anos nossos idosos são vacinados contra a influenza no Brasil, e nunca se ouviu falar que isso fosse um plano montado pela Novartis ou pela Sanofi-Pasteur ou pela GSK, ou mesmo pelo nosso tupiniquim mas eficientíssimo Instituto Butãtã para exterminá-los.
Os adjuvantes da vacina (timerosal e esqualeno) servem
para aumentar a resposta imune, e são adicionados a algumas vacinas.
Como a sua concentração é ínfima, não há riscos à exposição ao timerosal
outros que reações locais (dor, vermelhidão). Entretanto, recomenda-se
que gestantes e crianças até dois anos de idade não recebam vacinas com adjuvante. Tanto a rede pública quanto a rede privada dispõe de vacinas contra a influenza sem adjuvante reservadas especialmente para estas populações.
A vacina contra a influenza A tem sido administrada em
milhões de pessoas no hemisfério norte desde o final de 2009, assim como em milhões de pessoas na Australia e na Nova Zelândia, e não há relatos de óbitos ou qualquer outro efeito grave associado a ela. É verdade que vacinas feitas a partir de vírus vivos atenuados podem causar um tipo de paralisia chamada de síndrome de Guillián-Barré, mas isso é raro.
As únicas pessoas com contra-indicação à administração de vacinas feitas a partir de ovos embrionados (como a da influenza) são as que tem alergia a ovos. Portanto, se você come salada de batata com maionese, e come xis com maionese e ovo, se come pizza ou mesmo aquela boa e gorda a la minuta e nunca teve coceira, inchaço no rosto ou dificuldade respiratória, fique tranquilo!
Outra coisa que é importante sabér é que vacina é vacina, e Tamiflu é Tamiflu. Cada um no seu quadrado!
A vacina é um liquido contido dentro de uma seringa (se na rede privada) ou dentro de um vidro onde cabem 10 doses (se na rede pública) que serve para estimular nosso sistema imunológico a produzir anticorpos (defesas) contra uma doença - no caso, a gripe.
O Tamiflu é o nome comercial do oseltamivir, um remédio que inibe a replicação do vírus influenza, e serve para tratar a doença. E não, ele não é feito a partir do anis estrelado.
Ou seja: vacina serve para prevenir. Tamilfu serve para tratar o que não foi prevenido.
Obviamente que a decisão sobre vacinar-se ou não é individual, e não há uma obrigatoriedade, por parte do governo ou de quem quer que seja, para que as pessoas se vacinem. Entretanto, quem já teve um quadro de influenza sabe muito bem o quão incapacitante essa doença é: pelo menos 3 dias de febre alta e contínua, com muita dor no corpo e dor de cabeça. Quem já viu casos graves de pneumonia viral primária pelo vírus influenza sabe muito bem o quanto é angustiante (para o médico e para a família) ver uma pessoa jovem, muitas vezes grávida, morrer por causa disso.
Já que circula um e-mail com informações incorretas, tendenciosas e irresponsáveis sobre um problema de saúde pública mundial, resolvi dar a cara a tapa e esclarecer as pessoas próximas a mim sobre isso.
Se você não repassar este e-mail para quem você conhece, não se preocupe porque você não vai virar um cíclope alado e mal-cheiroso! Mas se achar prudente, reencaminhe para sua lista de e-mail.
Abraço a todos,
MD Carolina Cipriani Ponzi
Médica Infectologista
(49) 8828 2646
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