Comportamento adolescente
O nome dela é Rosimery da Costa Gonçalves, mas agora insiste em ser chamada de Rô, apenas Rô. Expliquei que não suporto apelidos ou abreviações insinuantes e que as mulheres da nossa família sempre foram chamadas pelo nome de batismo. Não adiantou.- É a influência dos amigos - disse minha esposa. - Eu temia que isso fosse acontecer com a Rô...
- Rô?! Até você, mulher?
Mas o detalhe do nome nada significa se comparado aos abusos que tomaram conta da nossa vida. De uma hora para outra, a queridinha "Rô" passou a freqüentar bailes e danceterias, saindo cedo e chegando tarde, sem respeitar nossos horários e nossa aflição.
Uma vez esperei por ela na varanda, onde tivemos a seguinte conversa:
- Por acaso a senhora sabe que horas são?
- Não uso relógio.
- Pois devia. Estamos muito preocupados com os seus passeios noturnos.
- Já sou bem crescidinha. E sei me cuidar.
- Mas mora na minha casa. E, enquanto estiver sob o meu teto, terá que seguir as minhas regras.
- Ah, não enche!
E entrou displicente, com o nariz empinado. Minha esposa disse que eu era muito rude e que desse jeito não chegaria a lugar algum. Prometeu que falaria com ela, como de fato falou, mas foi o mesmo que nada.
A insolente continuou saindo e arranjando namorados. Namorados, entende? Olha, não quero ser antiquado, não tenho nada contra o namoro de pessoas na idade dela, desde que seja sério, compromissado e às claras. Perguntei por que ela não arrumava um namorado firme e apresentava à família.
- Você é muito grosso - respondeu. - Espantaria qualquer um que viesse aqui.
Pouco demorou para que os boatos chamassem a atenção dos parentes. "Meu Deus", disse uma tia, "a Rosemery sempre foi tão quieta!" Com efeito, ninguém acreditava que ela estivesse desse jeito. Responder o quê? Que isso acontece nas melhores famílias?
Diante de meus lamentos, um amigo psicólogo apenas riu e balançou a cabeça:
- Ô Gonçalves! Tudo no mundo muda. Aceite.
Pois é. Sou obrigado a aceitar. Rosimery da Costa Gonçalves, a minha querida mãezinha, nunca mais foi a mesma depois que entrou no Clube da Melhor Idade.
Coluna publicada em 10 de outubro de 2007. O
colunista Maicon Tenfen está em férias e retorna
com colunas inéditas em 4 de agosto.
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